segunda-feira, 25 de abril de 2011


MAKÈZÚ
— «Kuakié!... Makèzú, Makèzú...»

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O pregão da avó Ximinha

É mesmo como os seus panos,

Já não tem a cor berrante

Que tinha nos outros anos.

Avó Xima está velhinha

Mas de manhã, manhãzinha,

Pede licença ao reumático

E num passo nada prático

Rasga estradinhas na areia...

Lá vai para um cajueiro

Que se levanta altaneiro

No cruzeiro dos caminhos

Das gentes que vão p'ra Baixa.

Nem criados, nem pedreiros

Nem alegres lavadeiras

Dessa nova geração

Das «venidas de alcatrão»

Ouvem o fraco pregão

Da velhinha quintadeira.

— «Kuakié!... Makèzu, Makèzu...»

— «Antão, véia, hoje nada?»

— «Nada, mano Filisberto...

Hoje os tempo tá mudado...»

— «Mas tá passá gente perto...

Como é aqui tás fazendo isso?»

— «Não sabe?! Todo esse povo

Pegô um costume novo

Qui diz qué civrização:

Come só pão com chouriço

Ou toma café com pão...

E diz ainda pru cima,

(Hum... mbundo kène muxima...)

Qui o nosso bom makèzú

É pra véios como tu».


— «Eles não sabe o que diz...

Pru qué qui vivi filiz

E tem cem ano eu e tu?»


— «É pruquê nossas raiz

Tem força de makèzú!...»
VIRIATO DA CRUZ (Poeta angolano) in Poemas,

Coleção Autores Ultramarinos,

Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, 1961

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